Deu no Jornal A Tarde - Salvador-BA

Reverberando texto do professor Angelo Serpa (angserpa@ufba.br) sobre a Freifunk - 0nda livre, uma experiência de Berlim "The land of good ideas" para democratizar o acesso à internet... Essa e realmente uma boa idéia... Vamos ao texto:


Acesso universal à internet com baixo custo parece um sonho distante no Brasil, onde a proporção de domicílios com computador nas áreas urbanas não supera a marca dos 28%. Na Região Nordeste, esse percentual é ainda mais baixo, não ultrapassando 14%. Se considerarmos somente aqueles computadores com acesso à internet, esses números caem, respectivamente, para módicos20% e9%. NaAlemanha, oacesso às tecnologias de informação e comunicação é mais universalizado e a discussão se dá em outras bases.Como emBerlim, onde 73,3% dosdomicílios dispõem de computador com acesso à internet e a administração municipal quer abrir em breve licitação para implantação de uma rede sem fio que cubra todos os espaços públicos da cidade.

Vive-se em Berlim a era da universalização da rede WLAN (sem fio), algo inimaginável no contexto brasileiro atual. A ideia é instalar roteadores e antenas em semáforos, postes de iluminação e telhados de edifícios públicos, o que vem causando polêmica, considerandose o impacto visual e a possibilidade de problemas de trânsito, em decorrência de possíveis falhas de sincronização com os semáforos.

Mas essa não é a única causa de insatisfação em Berlim. Muitos gostariam que a infraestrutura fosse de fato pública e não explorada pela iniciativa privada.

Em Berlim, uma rede sem fio nas mãos dos usuáriosjá érealidadedesde2002. Trata-seda iniciativa Freifunk (“Onda Livre”), que reúne muitos adeptos, principalmente no lado oriental da cidade, em distritos como Friedrichshain, Mitte e Prenzlauer Berg. Nestes distritos, logo após a queda do muro, a empresa de comunicação alemã Telekom instalou cabos de fibra ótica, na época a tecnologia mais modernaparaacesso à internet rápida.Como advento da internet sem fio, esses cabos se mostraram inapropriados, já que a instalação de uma infraestrutura de WLAN requeria cabos de cobre. Isso deu origem à rede Freifunk, fruto da organização dos habitantes, que ao longo dos últimos anos conseguiram instalar uma (impressionante) estrutura descentralizada de WLAN, a um custo muito baixo e sem necessidade de conexão com um provedor central.

A rede Freifunk desconstrói a ideia de que a tecnologia separa e isola as pessoas nas metrópoles contemporâneas, porque exige de seus usuários estratégias de organização baseadas no encontro e na copresenca entre vizinhos, fortalecendo as redes sociais nos distritos onde seinsere. Para seconectar à redeFreifunk, o novo usuário precisa de um roteador reconfigurado, um computador e alguém nas vizinhanças que já participe da rede. Os usuários compartilham programas gratuitos disponibilizados na plataforma Freifunk, além de uma infraestrutura de vizinhança, como antenas nos telhados dos prédios. Para iniciantes, há um encontro semanal, no centro da cidade, quando experiências edúvidas são compartilhadas com os mais “veteranos” na rede.

A rede Freifunk não se restringe apenas ao acesso à internet. O intercâmbio de arquivos é mais intenso entre os participantes do que na WLAN comercial. E isso não ocorre por acaso, como explica Jürgen Neumann, um dos muitos porta-vozes da rede: “É muito mais rápido baixar um vídeo no computador a partir de um site, do que enviar um vídeo produzido por vocêpara oYoutube,porque, desde o início, os provedores da infraestrutura queriam transformar os usuários emconsumidores que não produzem conteúdos para a rede”. Ou seja: a tecnologia que baseia a WLAN comercial determina velocidades maiores para baixar arquivos e menores velocidades para enviá-los.

Além disso, na rede Freifunk, todos dispõem deumendereço fixo de IP (ao contrário da internet sem fio convencional), o que facilita a conexão direta e o compartilhamento de conteúdos entre os participantes.

Se no contexto alemão Freifunk significa uma rede autônoma e não hierárquica de comunicação, no Brasil poderia representar uma possibilidade real de acesso à rede mundial de computadores de modo criativo, participativo e compartilhado para aqueles que de fato necessitam dessa técnica e não podem assumir os (ainda altos) custos para sua instalação.


Em Berlim, uma rede sem fio nas mãos dos usuários já é realidade desde 2002. Trata-se da iniciativa Freifunk (“Onda Livre”), que reúne muitos adeptos


A Tarde, 16.10.2009

SOBRE O AUTOR

DORIEDISON ALMEIRA
Prof. Dr.- Universidade Federal do Oeste do Pará.

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