SOBRE TRIBOS, FOBIAS E EXTERMÍNIOS



Esta última incursão amazônida para trabalhar no PARFOR – Programa de Formação de Professores do MEC/CAPES, tem sido particularmente especial, primeiro pela sorte de encontrar colegas da UFOPA com quem gosto de dialogar. Segundo pela oportunidade de interagir com indígenas, sua cultura e folclore. Nós, os pardos, brancos, amarelos, mulatos, mamelucos, cafusos e negros, resultado desse meio milênio de mestiçagem, canibalizamos ou deixamos canibalizar nossas vidas, riquezas e culturas. Observei isso, na vontade dos alunos Wai Wai de serem Brasileiros, ao saírem de suas terras lá pras bandas do Suriname e descerem o Trombetas para integrarem-se pela educação, também vi isso em outras etnias, que mesmo tendo que negar forçosamente sua origem indígena, também pretendem o mesmo, mostrando o quão foi e é grave nosso descaso nesses processo de extermínio e aculturação.


O Professor Darcy Ribeiro mostrou como a colonização portuguesesa e européia, produziram no Brasil um dos maiores genocídios humanos e culturais, desde que o mundo é mundo. Aliás, esse ditado deve significar a superação dos grunidos pelos humanos e a possibilidade de resistir. De lá pra cá a produção de signos e significados, acentuando processos de dominação cultural, ou promovendo seu extermínio. Sob patrocínio de duas multinacionais do medievo, as companhias das índias e a de Jesus, somadas à vida boa e pachorrenta no litoral das elites daqueles tempos, construímos nossa tradição de negar a cultura dos Brasis adentro. Séculos correndo, africanos e outros povos atravessaram o atlântico por imposição de guerras, credos ou subjugados como animais sem alma, para amalgamarem-se ao que restou de nossas raízes mais profundas.

Observo o resultado dos processos civilizatórios amazônidas, a partir da confluência de alguns do seus grandes rios, desde minha chegada à mocoronga Santarém. Conforme os historiadores, nesse território, para onde confluíram (e continuam confluir) rios e culturas, habitavam inúmeras etnias. Esses povos foram soberanos dessas águas e terras até a chegada de Ingleses, espanhóis, portugueses que navegaram estes vales. O compasso e a régua dos colonizadores, tensionando tordesilhas, somados aos conflitos entre portugueses e mouros na costa da Guiné, fizeram duas centenas de portugueses aportarem na Belém seiscentista, para depois serem enviados pela coroa lusitana, destinados a ocupar o imenso território. Daí surgiram ao longo dos vales amazônidas, cidades como Almeirim, Aveiro, Santarém, Óbidos, oriximiná e Alenquer.

Após três séculos e meio essas sagas resultaram nesse povo moreno e forte que faz festa e brinca de índio ao som de toadas organizados em tribos, quiçá pós-modernas, cantando e contando a história e cultura das tribos. Entrementes, conforme alertou me ontem o professor Colares, é preciso que toda essa beleza e diversidade não de lugar a fobias e estéticas pasteurizadas, sob pena incorrermos em outros erros, transformando uma rivalidade festiva em processos de intolerância e extermínio cultural negando nossa tradição de diversidade construída a duras penas ao longo dos últimos cinco séculos. Aliás, isso já vem ocorrendo, mas é pano de manga pra outros textos.

Por ora, vamos ouvir toada, dançar, brincar de índio e lembrar de boi, ao som dos músicos e toadeiros das tribos muirapinima e mundurukus, que é pro dia nascer feliz, conforme o cineasta João Santana, que em seu belo documentário homônimo, mostra a importância da educação, ao comparar duas realidades escolares contrastantes, aliás documentário que recomendo aos possíveis leitores dessas garatujas digitas. Eu, que não sou cineasta deixo o resultado de meu olhar fotofóbico e vagabundo, resultado do passeio de ontem às margens do Amazon River. Hoje tem mais, flanarei exercitando esse olhar vadio por entre as tribos e ruas de Juruti, prá depois ouvir toada da boa.


Juruti, Verão amazônico de 2012, inverno na terra brasilis.


SOBRE O AUTOR

DORIEDISON ALMEIRA
Prof. Dr.- Universidade Federal do Oeste do Pará.

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